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Enquanto a vida passa através das telas

07/14 | Notícias

Estudo revela que o tempo livre das novas gerações é preenchido por estímulos digitais, nem sempre saudáveis

A falta de tempo tem se tornado uma constante. A tecnologia, que trouxe inúmeros avanços, agora ocupa todos os espaços – pessoas, empresas, famílias e até crianças estão imersas em um universo digital que consome cada instante diário. Um estudo realizado em Madrid, na Espanha, conduzido pelo Grupo de Sociologia da Infância e Adolescência (GSIA), revelou que 46% das crianças entrevistadas afirmaram que possuem tempo livre suficiente, percentual que aumenta para 75% no caso dos adolescentes [2]. O grande “porém” é que esse tempo é ocupado, muitas vezes, com atividades pouco produtivas ou até nocivas ao desenvolvimento.

Hoje, é comum observar tanto adultos quanto crianças imersas em telas. Redes sociais como TikTok e plataformas de streaming transformaram momentos de interação e brincadeira em consumo passivo de conteúdo. Uma pesquisa recente realizada pela Mobile Time em parceria com a Opinion Box trouxe dados alarmantes sobre o uso de telas por crianças: intitulado “Crianças e Adolescentes com Smartphones no Brasil” [3], o levantamento apontou que cerca de 26% das crianças entre 4 e 6 anos já possuem um celular próprio. O dado mais impressionante é que 7% das crianças de 0 a 3 anos também já têm seu próprio aparelho.

Com isso, o tempo que antes era dedicado ao convívio familiar ou a atividades práticas cede lugar à conectividade constante. Essa mudança tem um preço alto: a fragmentação das relações e a negligência de aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil. Esse cenário agravou-se ainda mais após a pandemia de Covid-19. Um outro estudo analisou como crianças vivenciaram a organização do cotidiano durante a pandemia, especialmente em relação à percepção do tempo [1]. Os resultados apontaram para um aumento expressivo no tempo de exposição às telas, diminuição de atividades físicas e um sentimento de tédio inicial, seguido pela reorganização das rotinas por parte das famílias, com destaque para atividades escolares e de lazer em formato remoto. Essa reorganização da rotina reafirma a ideia de que o tempo ocioso das crianças é percebido como algo a ser combatido.

Tal situação é ainda mais preocupante considerando que a primeira infância é marcada pela formação de habilidades cognitivas, emocionais, sociais e motoras. Essas competências, no entanto, precisam ser estimuladas por experiências reais e interações humanas. Crianças aprendem brincando, correndo, explorando o mundo físico e interagindo com seus pares e com adultos presentes. Quando esses momentos são substituídos por horas diante de telas, o desenvolvimento integral é prejudicado.

No ambiente escolar os impactos também são visíveis. A falta de estímulo físico é evidente, com crianças que não têm mais o hábito de brincar ou de se movimentar. Esse distanciamento do mundo físico compromete a consciência corporal e, consequentemente, o desenvolvimento integral. Mesmo com todas as facilidades proporcionadas pela tecnologia, há uma perda significativa de algo essencial: a oportunidade de formar vínculos profundos e proporcionar experiências enriquecedoras na primeira infância. O contato humano, a troca de olhares e o tempo compartilhado são insubstituíveis para o crescimento saudável.

Além disso, a presença emocional dos adultos é essencial para o desenvolvimento das crianças. O vínculo que se forma em momentos de atenção e cuidado genuínos não pode ser substituído por mensagens instantâneas ou distrações digitais. No entanto, os próprios pais e responsáveis, muitas vezes, se encontram igualmente imersos em telas, negligenciando a necessidade de presença e interação.

Há, no entanto, caminhos para reverter esse quadro. É necessário, antes de tudo, que os adultos tomem consciência do impacto de suas próprias escolhas tecnológicas sobre o tempo e a qualidade das relações com seus filhos. Estabelecer limites para o uso de dispositivos, priorizar momentos de convívio sem telas e oferecer experiências reais de interação e aprendizado são passos fundamentais. O mesmo vale para a escola: ambientes educacionais podem servir como um contraponto ao excesso tecnológico, estimulando brincadeiras, atividades motoras e interações humanas.

A tecnologia é uma ferramenta valiosa, mas seu uso deve ser equilibrado. Quando o tempo é roubado pela conectividade, perdemos algo que nenhuma inovação pode substituir: a oportunidade de formar vínculos reais, estimular o desenvolvimento pleno e criar memórias. Na primeira infância, a presença e a qualidade do tempo compartilhado são insubstituíveis. O desafio está em usar a tecnologia de forma consciente, para que ela não nos afaste do que realmente importa.

Esther Cristina Pereira é pedagoga, psicopedagoga, professora, conselheira da Escola Atuação

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